martes, 25 de septiembre de 2012

Timor: mitos e lendas de um povo livre



                                            

Pablo Villarrubia Mauso

      Colônia portuguesa durante mais de 400 anos, até 1975, o setor oriental da ilha de Timor tem um passado pouco conhecido Desde 1999 chama-se república Democrática de Timor-Leste.  A somente 500 kms da enorme Austrália, a ilha tem cerca de 470 kms de comprimento por uma largura média de 110 kms. A parte independente tem quase 15 mil kms quadrados.
       Para melhor situa-la, a ilha de Timor se encontra entre dois Oceanos, o Indico e o Pacífico. Somente entre 1975 e 1985 morreram entre 200 mil e 350 mil nativos por ação direta ou indireta do exército indonésio que ocupou o território três dias depois da independência de Portugal. As cifras oscilam muito, pois não há dados oficiais a respeito.
       Antes da chegada dos portugueses e holandeses (no século XVI) Timor fazia parte de uma extensa rede comercial marítima cujo centro se situava na ilha de Java e logo se transladou às ilha Célebes. Essa rede alcançava a Índia e a China. Documentos da dinastia Ming, de 1436, mencionavam Timor como possuidora do melhor sândalo do mundo.
        A primeira referencia de um ocidental sobre a ilha a devemos ao navegante lusitano Rui de Brito, enviado pelo rei Dom Manuel para explorar os confins da Ásia em 1514. Dizia textualmente que "Timor é uma ilha situada nas proximidades de Java, repleta de sândalo, repleta de mel, repleta de cera, sem juncos para navegar, é uma grande ilha...". A abundância de produtos naturais chamou a atenção dos europeus, especialmente de portugueses e holandeses que por tais motivos ocuparam a ilha.
        A diversidade botânica também fascinou os primeiros exploradores, especialmente as árvores gigantes, que alcançavam até 70 metros de altura e onde se enroscavam cipós inquebrantáveis. A rica natureza timorense dá lugar a répteis, como lagartos, crocodilos e serpentes mortais de duas cabeças e a porcos selvagens além de uma grande diversidade de aves.
        Não se sabe exatamente quando surgiram os primeiros timorenses. De acordo com o célebre antropólogo português Mendes Correa, que visitou a ilha nos anos 40, é possível que estivessem lá desde tempos pré-históricos. Inclusive sugeria a curiosa hipótese de uma mutação de seus povos, ou seja, que poderia existir uma raça autóctone, diferente de todas as demais. Porém, o certo é que lá existem povos de tipo malaio, australóide, melanésio e inclusive negróide, estes últimos semelhantes aos da vizinha ilha de Papúa-Nova Guiné.
         Em uma arriscada hipótese elaborada nos anos 30, Correa aventou a possibilidade de que povos malaios e australianos pudessem ter chegado à América do Sul via Antártida por uma espécie de "ponte" de gelo ou navegando entre ilhas. A hipótese ganhou força nos últimos anos, especialmente com o descobrimento no Brasil de ossos humanos com características de aqueles povos. Talvez os primeiros brasileiros descendessem dos atuais timorenses...um ponto mais que nos une àquele povo tão distante.
                                                                  Ritos e tradições
          Durante muito tempo, inclusive durante o período colonial, os timorenses viveram em uma espécie de regime feudal. Os reis eram quase divinizados e a sociedade era escravagista. Os reinos eram chamado de "sucos" e, essencialmente, eram independentes uns dos outros.
           Ao contrário de outras ilhas do arquipélago malaio, os timorenses não sofreram influencia do islamismo e do hinduísmo. Ali sempre se praticou o animismo, especialmente o culto aos ancestrais. Embora os portugueses tenham conseguido cristianizar mais da metade da população, muitos cultos "pagãos" continuaram praticando-se sob a influência dos mátan-dok (sacerdotes).
           O deus principal dos povos tetum (que habitam o centro-sul da ilha) é Marómak, que significa "aquele que irradia luz". Conta uma lenda que Marómak desceu do céu para copular com a deusa Rai Lolon e voltou ao céu antes que nascera seu filho dentro de uma cratera. Este filho dos deuses se chamava Rubi Rika, e foi o primeiro ser humano sobre a terra e que logo deu origem aos povos que habitavam o povoado de Vikeke.
           Os timorenses acreditam que a harmonia entre o corpo e a mente pode quebrar-se se não se cumprem os rituais pertinentes à memória dos mortos. Para isso devem realizar oferendas, geralmente alimentos e animais sacrificados em homenagem e respeito aos antepassados.
          Em geral, todas as coisas para os nativos são "masculinas" ou "femininas". As coisas "masculinas" são fortes, grandiosas, cruéis e corajosas e as "femininas" são frágeis, simples, mansas e boas. O mar de Sonda, por exemplo é um "mar mulher", porque está sempre calmo e sereno. O mar de Timor é o "mar homem", porque está continuamente embravecido.
                                                                          
                                                              Ídolos e totens
      No setor central da ilha os exploradores portugueses encontraram colunas de madeira e de pedra de até três metros de altura. Nelas estão talhadas personagens com feições humanas. São os "ai tos", deuses que simbolizam algumas das forças e elementos da natureza ou inclusive ancestrais e que recebem o cuidado dos fiéis que os vestem como pessoas e cuidam de dar-lhes ritualmente alimentos e bebidas.
        Antigamente, os temíveis caçadores de cabeças timorenses, quando bem sucedidos nas suas incursões sangrentas, faziam reverências e ofertavam diversos objetos a estes ídolos, às vezes joias de prata e de ouro em forma de chifres de búfalo e de lua crescente ou discos feitos com os mesmos metais. Em algumas ocasiões se sacrificavam animais sobre pequenos altares situados diante dos ídolos.
        Os mitos e lendas timorenses falam de estranhos encontros com enguias, serpentes e crocodilos fantásticos criados pelos deuses. Assim como na África e entre os indígenas da América do Norte, cada clã ou grupo tribal tinha como símbolo um animal divinizado, ou seja, o seu totem. Ainda hoje as mulheres indígenas tecem com muita paciência tecidos multi-coloridos onde aparecem tais animais totêmicos.
         A influência da Indonésia - que proibiu a livre expressão do povo timorense - tentou apagar as muitas lendas da ilha. Na pequena ilha de Ataúro, a 17 kms da costa, em frente a Dili (capital da ilha), existe a crença popular nos Lé-Káli e Mimítu, criaturas com cabeça de serpente suportada por um esquálido corpo humano.
         Seus dentes compridos, garras e mãos enormes assustavam adultos e crianças, conforme nos conta o antropólogo português Jorge Barros Duarte em seu livro "Ritos e mitos Ataúros" (Lisboa, 1984). Os habitantes da montanhosa ilhota acreditam que os Lé-Káli e Mimítu podem aparecer sob a forma de um morcego para roubar-lhes a alma...
          Além das criaturas de lenda, outro aspecto destacado da cultura de Ataúro é o curandeirismo. Lá vivem os "mata-blolo" que usam técnicas de cura semelhantes às dos nossos pajés. Nos seus rituais mágicos, procuram curar seus pacientes mascando algumas ervas misturadas com um pouco de cal para provocar efeitos estimulantes.
          O "mata-blolo" cospe na mão as ervas e massageia a parte do corpo doente. Depois de vários passes mágicos, este pajé descobre a causa material da doença, geralmente uma pedra que aparentemente extrai de dentro do corpo sem praticar nenhuma cirurgia.    
           E assim como em outras religiões, os mata-blolos também "recebem" espíritos. Empregam uma sustância alucinógena feita a partir de raízes de plantas conhecidas por ai-memeta e ai-pepútil. Misturadas com uma espécie de vinho feito com outro vegetal surgia uma poção denominada ai-sa'e-lau. Durantes os rituais invocatórios, um aprendiz toca um tambor enquanto o mata-blolo bebe a poção e inicia a sua comunicação com os espíritos que pode durar até meia hora.
                                                                 Timorenses e os astros
         Uma aproximação dos timorenses a outras culturas está relacionada a uma espécie de "astrolatria" (adoração dos astros) e princípios astrológicos. Os Ataúros acreditam em uma influência sobrenatural exercida pelos astros sobre as nossas vidas, especialmente do Sol (Lea), de Hula (Luna) e do planeta Vênus (Ku-Méak). É em nome do Sol e da Lua que os Ataúros fazem muitos juramentos. 
         Assim como os gregos e outros povos do planeta, os Ataúros observavam  com atenção os astros e criavam as suas próprias constelações, surgindo assim histórias lendárias a partir das imagens que projetavam no céu. Uma diz respeito aos Três Irmãos, equivalentes às nossas Três Marias, estrelas brilhantes da constelação de Orion.
         Reza a lenda que esses Três Irmãos decidiram lançar-se ao mar a bordo de um "beiro" (espécie de piroga dotada de dois flutuadores). Um coqueiro (equivalente à constelação do Cruzeiro do Sul) que emergia do meio do oceano serviu de apoio para os navegantes que eram arrastados pelas correntes marítimas. Ali amarraram a embarcação.
         Esfomeados, tentaram pegar alguns cocos, mas foram impedidos por um enxame de abelhas (a nebulosa Coalsack, adjacente ao Cruzeiro do Sul). Depois de ter recolhido milagrosamente alguns cocos para abastecer-se de água, os irmãos se afastaram do coqueiro, mas, novamente as correntes marítimas os distanciavam da costa e tentaram regressar à segura referência que proporcionava a árvore. Diz a lenda que ainda hoje os três irmãos tentam remar em direção ao coqueiro mas sem sucesso.
         Nas noites de céu limpo, contam os Ataúros, pode-se ver a espuma (a Via Láctea) levantada pelos remos dos irmãos na sua eterna tentativa de vencer o mar.

Adaptação parcial do artigo publicado pela revista brasileira “Kalunga” número 106, novembro de 1999

domingo, 23 de septiembre de 2012

O homem queimado



O homem queimado: o caso Joao Prestes Filho de Araçariguama

Em agosto passado (2012) realizei uma viagem de vinte dias ao Brasil para o programa de TV “Cuarto Milenio”, do canal La Cuatro TV, de Madri, Espanha, no qual trabalho desde 2006.

A minha missão era de realizar uma série de reportagens sobre mistérios em geral, entre os estados de São Paulo e Minas Gerais. Foi um trabalho jornalístico intenso e exaustivo, fruto de anteriores pesquisas e apoiado pela colaboração de amigos e entrevistados.

A primeira reportagem ou mini-documentário foi emitido a meados de setembro (com o título “Luz mortal”), sobre a enigmática morte de João Prestes Filho, acontecida em março de 1946, na cidadezinha de Araçariguama, a 40 kms de São Paulo, capital.

As primeiras averiguações foram feitas em 1997, juntamente com o historiador Cláudio Suenaga, a partir de uma visita a São Roque.

O “caso Preste” me atraiu desde o começo pelas suas características: uma morte provocada por uma luz de origem desconhecido que causou sérias queimaduras, especialmente nas zonas descobertas do corpo, e tampouco nas partes cobertas de cabelo. Como isso pode ter acontecido?

O ufólogo e ilustrador Jamil Vilanova fez um desenho especialmente para uma reportagem que publiquei faz anos na revista espanhola "Enigmas" mostrando o incidente.

Alguns estudiosos sugeriram que poderia ser algum experimento com micro-ondas ou radiação. Mas, quem, no Brasil de 1946, poderia executar tais experimentos?

A reportagem pode ser vista no link abaixo, a partir de 46 minutos, aproximadamente,


Meus agradecimentos aos cidadãos de Araçariguama e às pessoas que entrevistei especialmente para este programa,

Pablo Villarrubia Mauso
Jornalista, escritor, roteirista.

sábado, 22 de septiembre de 2012

Blog do jornalista Pablo Villarrubia Mauso em português



BLOG DO JORNALISTA PABLO VILLARRUBIA MAUSO, EM PORTUGUÊS

Há tempos desejava fazer um blog só em português, para todos os amigos lusófonos que acompanham meu trabalho há vários anos.

Agora os meios de publicação na Internet são muito fáceis e ágeis. Até este momento somente possuía um blog em espanhol (http://villarrubia.worpress.com) e procurarei publicar artigos, comentários e pensamentos sobre o trabalho jornalístico e de escritor que desenvolvo, profissionalmente, desde 1986.

Obrigado a todos vocês,

Pablo Villarrubia Mauso

Misterio do nome Brasil





                                                   
Os irlandeses, antes de Cristovão Colombo, conheciam a "Ilha Brazil", uma terra mítica que se situaba no oceano Atlantico. Os cavalheiros Templários a transformaram em seu patrimonio. Outros situaram a Atlântida no Brasil.   

por Pablo Villarrubia Mauso

           Todos aprendemos na escola que a "Terra de Vera Cruz" e logo a "Terra de Santa Cruz" foram os primeiros nomes que recebeu o novo território onde desembarcou o navegante lusitano Pedro Álvares Cabral no dia 21 de abril de 1500. Mas o suposto descobrimento de Cabral, assim como o de Colombo, fui posto em cheque por vários historiadores: nem um nem outro foram os primeiros europeus na América e, alguém já sabia da existência de terras brasílicas em datas anteriores às dos grandes descobrimentos.
           As pistas para decifrar este mistério histórico poderiam estar na própria palavra "Brasil", nome que recebeu estas terras meridionais a partir da exploração de uma espécie de madeira usada no tingimento de roupas. Pese a que os livros mostrem sempre esta singela explicação, alguns historiadores, como o falecido Gustavo Barroso, preferiram buscar outras menos convencionais. Oficialmente o nome "Brasil" surgiu por primeira vez para designar as terras descobertas por Cabral em um mapa de 1504.
          O nome da árvore cujo tronco serviu de coloreante durante muito anos, o "pau-brazil", já aparecia nos relatos de Marco Polo, na Ásia e com diversas variações: bressil, brasilly, bresilisi ou braxilis. Esta matéria-prima foi introduzida na península Ibérica entre 1221 e 1243 pelos comerciantes de Veneza que controlavam o comércio europeu de especiarias.
         "Barroso buscou na lenda da Atlântida, uma terra mítica e perdida além das Colunas de Hércules ou Gibraltar, a "Ilha do Brasil"", me disse um dia o arqueólogo Aurélio de Abreu, já falecido, especialista em mistérios históricos e arqueológicos do Brasil. De acordo com Abreu, Barroso descobriu que nos mapas da Idade Média de Medici (1351) e de Pzigani (1367), aparecia uma mancha que emergia entre as então escuras e tenebrosas águas do Atlântico: era a ilha de Brazil, Berzil ou Brasil, isto mais de cem anos antes do suposto descobrimento de Colombo e Cabral.
          Mas havia outras coordenadas para a enigmática ilha. Um documento escrito em Gênova, em 1325, anunciava a existência da ilha Brasil ("L'Isola Brazil") que  se supunha situada na mesma latitude do sul da Irlanda. Seu nome procederia, segundo Barroso, do idioma gaélico (dialeto da língua celta que se falava na Irlanda e na Escócia), da palavra "Bresail", um antigo semi-deus pagão. A misteriosa e escorregadiça ilha, um enorme anel de terra que rodeava um mar interior salpicado de ilhotes, somente se revelava aos olhos de uns poucos privilegiados.
          Mas, no idioma gaélico a palavra Brasil também poderia significar "afortunado/afortunadas" e se incorpora ao mito das famosas "Ilhas Afortundadas" que alguns historiadores também associam às ilhas Canárias, em frente das costas da Africa ocidental. Um manuscrito que se encontra no colégio Corpus Cristi, na Universidade de Cambridge, de autoria de Guilhermo Botoner, de 1480, narra o descubrimiento de uma ilha chamada Brasil ao oeste da Irlanda. Hy-Bresail o O'Breasail era uma terra "prometida" das lendas celtas que se confundia com a ilha de São Brandão ou Borondón, ou ainda com as míticas ilhas de Sete Cidades que romanos e depois lusitanos procuraram.
           Para Barroso o mito das ilhas Afortunadas pode ter vindo dos gregos e latinos, que cruzaram os rios do conhecimento obscuro e confuso da Idade Média para espalhar-se pelos países nórdicos e ocidentais da Europa para então chegar à América.
          Segundo Abreu, os catalães também tem a sua participação na história secreta do nome "Brasil". Na Biblioteca de Módena, Itália, existia um mapa-múndi anônimo, de procedência catalã cujo proprietário era Angelino Balorto. Nele se observa nas proximidades da Irlanda uma ilha chamada Brezil. Alguns historiadores acreditam que o mapa data de 1350 enquanto outros o situam por volta de 1367. Teriam os catalães chegado à América casualmente ou durante uma expedição de busca de novas terras ?
         "Talvez os cartógrafos tenham aproximado alguma ilha ou costa do continente Americano à Irlanda. Era comum naqueles tempos que os desenhistas trabalhassem com referencia muito débeis, ou seja, com relatos verbais dos viajantes que traziam informações pouco precisas ou confusas, às vezes a propósito, para evitar que outros viajantes localizassem as terras onde exerciam o escambo de mercadorias", reflexionava Aurélio Abreu.   
                                                            Antilhas e Fenícios
         Outro dado curioso é que os espanhóis chegaram a batizar um porto na ilha de Santo Domingo como Brasil ou Brazil. Um mapa de 1439 que se encontra na Biblioteca de São Marco (Veneza), cujo autor era André Bianco, mostra uma ilha no extremo oriental do Atlântico com o nome de Brazil, perto de outra chamada Antilia e uma terceira, sob o estranhíssimo nome de "Isla de la mano de Satanaxio" ou o mesmo que "Ilha da mão de Satanás".         
         O mapa náutico de Zuane Pizzigano, de Veneza (1424), é  um dos mapas mais antigos da Idade Média dedicado ao "Mar Oceano" e às suas ilhas misteriosas. Nesse mapa aparece uma ilha de grandes dimensões, a Antilia, desenhada com o mesmo  tamanho que Portugal. Este é a primeira tentativa de representar uma parte do que posteriormente se denominou América, antes que Colombo ali chegara em 1492. E, tal como os mapas mencionados anteriormente, este também exibe uma ilha, pintada como um círculo bipolar, vermelho e azul. Seu nome: Braxil. Está situada a pouca distancia a oeste da Irlanda e é menor que esta ilha. Este "Braxil" passou totalmente desapercebido aos historiadores.
           Nos anos 70 o arqueólogo norte-americano Cyrus Gordon interpretou o nome Brasil procedente da palavra "brzl" usada pelos canaanitas (habitantes da antiga Fenícia e Palestina) para designar o ferro. O estudioso se baseava nas descobertas de inscrições fenícias no nordeste brasileiro, especialmente na Paraíba, que provariam a presença daquele povo bíblico en nosso país.
           A margem destas interpretações e, como concluía Barroso, a palavra Brasil não era desconhecida dos navegantes portugueses. Era possível que tivessem confundido as costas do Brasil com a mítica ilha do Atlântico, repleta de madeira vermelha que tingiu não só suas roupas como também seus sonhos.
                                                                   Atlântida no Brasil
           As terras brasileiras foram descritas por vários pesquisadores da arqueologia fantástica como um colônia de atlantes que aqui se refugiaram durante o grande cataclismo que afundou o continente perdido.
           "A primera comparação que se se fez entre o Brasil e Atlântida é devida ao francês Snider Pellegrini", revela o historiador paranaense Johnni Langer. Em sua obra "La creation et ses mystères devoilés: l'origin de l'Ameriqueª (1859), Pellegrini afirmava que nas selvas do Mato Grosso estava ocultas as ruínas do outrora glorioso Império que foi mencionado pelo filósofo Platão. Mais tarde, a princípios do século XX, o célebre coronel britânico Percy Fawcett defenderia e popularizaria a dita hipótese.           
          A princípios do século XX o cônego Raymundo Ulysses de Pennafort - defensor da existência da Atlântida - acreditava que a palavra "Brasil" procedia do sânscrito, ou seja, "Berézatl-Gairi" que significa "Alta Colina". Outro estudioso pouco ortodoxo, Peregrino Vidal, em seu raríssimo livro intitulado “Fomos e Somos a Atlântida" (São Paulo, 1946), acreditava que a palavra Brasil era de origem mesopotâmico, originalmente Beracil que se transformou em Bracil cujo significado era "Terra dominada pelo Sol do meio dia". Vidal defendia que os indios tupis eram descendentes dos Iberos trazidos por um semi-deus civilizador mesopotâmico chamado Raghemah o Sumé.
           Os atlantôlogos, ainda mais atrevidos, dizem que a própria Atlântida ficava no Brasil. O pesquisador e estudioso de mistérios brasileiros, Gabrielle D'Annunzio Baraldi, diretor do Instituto de Cultura Megalítica ( em São Paulo) situa no Piauí uma parte do desaparecido continente. Como provas, mostra um desenho feito a partir de uma pedra pré-hispânica que está em um museu particular do dr. Darquea Cabrera, no povoado de Ica, Perú, onde aparecem, supostamente grandes cidades atlantes na América do Sul.
         Uma das bases para relacionar Brasil com a Atlântida é a geologia. O território brasileiro é geologicamente, o mais antigo do planeta. "A ausência de depósitos de sedimentos da Era Secundaria no planalto central brasileiro revelava que tais terras se encontravam emersas em época anterior à acumulação de tais sedimentos no fundo do mar. Em outras palavras: a região central do Brasil já constituía um continente amplo quando as demais partes do mundo ainda estava debaixo das águas do grande oceano primordial ", alega Baraldi.
                                                                Templários e Inquisição
           Outro fato da história oculta do descobrimento do Brasil envolve a famosa Ordem de Cristo. Na Idade Média foi criada a Ordem dos Cavaleiros Templários, que tantas páginas da história preencheram. Dissolvida violentamente em 1312 pelo Papa, a Ordem continuou existindo em Portugal - um dos reinos mais tolerantes naquele momento - e albergou aqueles que fugiam da atroz perseguição em outros domínios europeus.
           O rei português D. Dinis fundou a Ordem de Cristo, na realidade uma fachada para ocultar os verdadeiros templários os que outrora haviam protegido os caminhos de peregrinação europeus até Jerusalém conquistada pelas Cruzadas.
           Outra personagem célebre, o infante D. Henrique, conhecido como "O Navegante" e fundador da Escola de Sagres (de técnicas e descobrimentos náuticos) foi o líder da Ordem de Cristo. Alguns historiadores acreditam que o infante e seus navegantes conheceram o Brasil antes que Cabral. O certo é que o Brasil fez parte do patrimônio da Ordem durante muito tempo. As caravelas que aquí chegaram traziam abertas as velas com a cruz templária, símbolo máximo da instituição.
          "Ainda hoje existem grupos muito fechados no Brasil de cavaleiros templários que realizam ritos antiquíssimos e que se consideram herdeiros do patrimônio deixado pela Ordem de Cristo, um patrimônio espiritual que se inspira no nascimento de uma grande potência econômica a partir do próximo milênio", dizia Aurélio Abreu.              
           Um dos dados mais significativos para compreender a nova Terra Prometida ou Paraíso Terrenal - tal como Cristóvão Colombo proclamou ao descobrir o continente Americano - é a desconhecida ou talvez omitida história de Pedro de Rates Hanequim, natural de Lisboa que viveu durante 26 anos em Minas Gerais.
           Em 1741, sua Majestade, João V ordenou o confisco de bens e a excomunhão de Hanequim e, em 1744, o Santo Ofício (a Inquisição) ditou a sua morte por afogamento, primeiro e pelo fogo, depois, a fim de reduzir seu corpo a cinzas. Tudo isso para que Hanequim não tivesse sepultura e que seu nome se apagara de uma vez por todas da história. Porém, os mesmos documentos eclesiásticos imortalizaram este crime.
          Por que morreu Hanequim ? Por algo muito grave para aquela época: seu nome estava ligado a uma conspiração contra a monarquia portuguesa e seu domínio sobre o Brasil, pois procurava a independência daquela colônia. Não obstante, não foi esse o motivo principal que o levou aos tribunais do Santo Ofício ou que a Inquisição decretara a sua morte. Segundo conta o grande historiador Sérgio Buarque de Holanda em seu livro "A visão do Paraíso", o cidadão luso foi condenado por considerar o Brasil como o "Paraíso Terrenal" onde havía uma árvore com frutos semelhantes a figos ou maçãs que encarnavam o bem e o mal.
         Hanequim também acreditava que os índios brasileiros descendiam de uma das tribos perdidas de Israel - que aparecem no Velho Testamento - e que Adão, o progenitor da humanidade, criou-se no Brasil. De aquí partiu para Jerusalém ao abrir-se o Oceano Atlântico para permitir sua caminhada, do mesmo modo que o Mar Vermelho se abriu aos israelitas. E para provar que este Adão brasileiro existiu, Hanequim mencionava as marcas de pés humanos que apareciam marcados em algumas rochas nas costas da Bahia.
         Com toques proféticos, Hanequim apregoava que no Brasil se erigiria o "Quinto Império", super-poderoso, que alargaria seus dominios por todo o Planeta. O religioso aproximou-se em parte da atual realidade: hoje o Brasil é a oitava potencia econômica mundial, apesar de que a renda dos seus cidadãos seja uma das piores distribuidas, concentrada em mãos de poucos.
         Além disso, Hanequim difundiu que o Dilúvio Bíblico não tinha sido universal: o Brasil tinha escapado do aguaceiro. A maior heresia do prisioneiro foi a de ter considerado que na Criação do Mundo somente intervieram o Filho e o Espírito Santo, excluindo o Deus-Pai desta importante tarefa. A isto se acrescenta que as entidades Divinas tinham corpo material, ou seja, os anjos e inclusive Nossa Senhora seriam tão palpáveis como qualquer um dos mortais.
          Embora sob tortura durante três anos, Hanequim continuou afirmando suas teorias diante do enraivecidos padres do Santo Ofício que não lhe perdoaram a heresia. Hoje, passados vários séculos, as palavras do malogrado herege ainda ecoam como proféticas e todos os anos, em alguns rincões paradisíacos do Brasil surgem grupos que proclamam o nascimento de uma Nova Nação abençoada por Deus ou pelos deuses.