sábado, 24 de noviembre de 2012



ANDRE CARNEIRO: CONFISSOES DE UM GRANDE ESCRITOR

Não é difícil compreender porque André Carneiro é um dos maiores escritores do Brasil. Não tem a fama de outros protegidos pelos meios de comunicação, mas leva uma trajetória literária invejável. Contudo, é mais conhecido no exterior que no seu próprio país, elogiado por críticos  notáveis como o francês Bernard Diez "como um dos maiores poetas vivos do Brasil".

Descriminado, é “acusado” de ser um escritor de ficção-científica, gênero marginal para os doutos literatos e ortodoxos da literatura em geral. André Carneiro abre suas fronteiras ao chamado realismo-fantástico, à poesia e à transmissão de sentimentos e situações que estabelecem um vínculo entre o cotidiano e o, aparentemente, irreal.

Conhecendo pessoalmente a este extraordinário escritor, encontrei muitos de seus aspectos biográficos distribuídos ao logo do seu livro “Confissões do Inexplicável” (Devir Livraria, Brasil-Portugal, 2007, com introdução de Dorva Rezende).

Nesta breve postagem para meu blog, somente vou comentar um dos muitos contos que preenchem quase 600 páginas deste livro: “Solidariedade: o vírus sub-reptício”. Inevitável, ao lê-lo, pensar no célebre filme “O dia em que a Terra parou” e outros relatos clássicos da boa ficção-científica.

Já na primeira página, André Carneiro nos fala de “milhões de aidéticos espalhando a sua desgraça ou lutando para prolongar a vida ameaçada, já eram rotina, os legisladores não sabiam o que fazer com as crianças assassinando adultos, e como alimentar os esfomeados se milhos de dólares eram usados para pagar misteriosos juros de uma dívida assumida pelas faces desconhecidas daqueles que sempre tiveram dinheiro”.

Crítica mordaz a uma situação sobre a qual escreveu há quase uma década, mas que não mudou absolutamente nada. Também diz: “No Rio de Janeiro ainda morriam mais pessoas baleadas, com sólidos e visíveis pedaços de chumbo rasgando artérias, do que aqueles que deixavam de respirar, inexplicavelmente donos de um corpo saudável”, referindo-se a uma estranha doença que assola nosso planeta em um presente ou futuro indefinidos, o chamado vírus sub-reptício.

Os doutores Lúcia e Nelson se enfrentam a incompreensão dos demais médicos e autoridades brasileiras e acabarão vivendo uma aventura que os levará até Brasília e Washington. Homens- de-negro - visitantes de outros mundos - estão presentes neste conto que nos leva a refletir sobre o sentido da “solidariedade”.

Sobre esta palavra André nos conta o seguinte: “Pregar solidariedade em uma população que assaltava supermercados, recebia a bala qualquer visita inesperada, que morriam de fome nos subterrâneos do metrô, que tinha soldados policiando as ruas...Qual misteriosa solidariedade queria aquele alienígena ensinar, para curar uma doença?”

A resposta a esta e outras questões estão na recomendável obra de André Carneiro, tal como comentei ao princípio, marginalizado pela imprensa e pelos figurões da literatura brasileira mas, sem dúvida, um dos mais lúcidos e perspicazes autores da língua portuguesa atual.

Pablo Villarrubia Mauso
Madrid, 21 de novembro de 2012

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